sábado, 15 de novembro de 2014

Sócrates e os cientistas

Bueno *
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Algum tempo depois de Sócrates ser resgatado para morar na esfera superior, estava eu uma noite no Templo da Cidadania a convite do Kaxassa, cineasta e agitador cultural de Ribeirão Preto – gosta tanto do apelido que o incorporou ao nome, Fernando Kaxassa. Levando um lero com ele, com o cotovelo naquele balcão de madeira apreciando aquele chope da Colorado, o papo rolava solto. Entre as personalidades presentes naquela noite estava o doutor Sérgio Ferreira, cientista e professor da Universidade de São Paulo (USP).
Ele foi professor de Medicina de Sócrates, doutor Sérgio é hoje recconhecido internacionalmente, pois descobriu que no veneno da cobra jararaca havia um novo remédio para controlar a pressão arterial. Depois de derrotarmos alguns chopes, meu querido amigo cientista se aproximou e, como sempre, veio falar sobre o Sócrates.
Com orgulho comentava que o Magrão foi seu aluno mais brilhante, disse ele que ele viajava muito com o Botafogo e perdia muitas aulas em comum acordo com alunos de classe, que o tinham como ídolo. Mudavam as datas das provas para que nosso craque não fosse prejudicado. Chegava de viagem, dava uma lida rápida nas matérias e sempre tirava notas melhores que os outros, que rachavam de estudar.
Entre um chope e outro, doutor Sérgio disse que se Sócrates, ao invés de optar pelo futebol, abraçasse a medicina teria sido um dos maiores cientistas do mundo. Daí até fiz uma brincadeira: “Pois é, Serjão – assim o tratamos na intimidade –, o cientista só mudou de lugar, foi para os campos do mundo levar toda a essência do futebol, o mundo teve a oportunidade de ver um cientista da bola. Para ele, o resultado do jogo era o menos interessante, o importante era o espetáculo. Quando ele saía de campo com a certeza de havia sido um grande jogo, sentia-se realizado.”
Por falar em cientista, o brasileiro Paulo Teixeira, ligado ao governo federal, convidou um grupo de cientistas americanos e europeus para uma expedição que fizeram muitos anos atrás, ou seja, descer um rio do pantanal visitando ribeirinhos e pesquisando tudo. Os estrangeiros queriam saber da possibilidade de convidarem Sócrates para esta parada e, depois de muita insistência, Magrão topou, desde que no navio tivesse muita cerveja. Bases acertadas, lá foram eles, levando também o Kaxassa.
Disse Kaxassa que a cozinheira Tereza, que era superfã de Sócrates, não sabia o que fazer para agradá-lo e lhe cobria de mimos. Também não sabe explicar como toda população ribeirinha já sabia que naquela embarcação estava o Doutor Sócrates. Logo na primeira parada, num pequeno vilarejo, alguém encaminhou até ele um caboclo com um enorme facão na mão. O cabra tinha fama de matador e foi dizendo a Sócrates que a mulher dele não andava, tinha dores terríveis no joelho, uma das especialidades do Doutor.
O matador queria que ele a atendesse, mas não queria que colocasse a mão na perna da sua mulher. Sócrates deu uma recuada e disse: “Eu sou médico, só quero poder ajudar”. Aí o cara respondeu: “Doutor o senhor pode, mas só o senhor que foi capitão da mais linda seleção que vi jogar.” Sócrates apalpou seus joelhos, o homem só de butuca, depois mexeu aqui, mexeu ali e pediu pra ver os remédios que ela estava tomando. Na hora ele jogou todos no rio e disse: “Tá tudo errado”. Em seguida prescreveu o que ela deveria tomar.
O navio seguiu rio abaixo e as histórias pipocavam uma atrás da outra, os cientistas mal acreditavam que estavam ali com Sócrates. Kaxassa disse que uma sueca parecia ver miragens. A cozinheira do navio aceitou o convite de Sócrates e Kaxassa para conhecer Ribeirão Preto e também sair no bloco de carnaval Berro, e assim pode rever os amigos que fez na expedição.
Sócrates perguntou sobre o caboclo e sua mulher medicada, ela disse que como um milagre a dona foi curada e até estava pescando com o marido, e que agradece a Deus sua passagem por lá. Kaxassa, quando lembra de tudo isso, sempre repete: “Buenão, o Magrão era um bruxo, amigo...”
* Cantor e compositor

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Propriedades da banana

Nunca coloque banana na geladeira! 

 
Isso é interessante. 
Depois de ler isto, você nunca vai olhar para uma banana da mesma maneira novamente.
A banana contém três açúcares naturais - sacarose, frutose e glicose, combinados com fibra. A banana dá uma instantânea e substancial elevação da energia.

Pesquisas provam que apenas duas bananas fornecem energia suficiente para um treino de 90 minutos extenuantes. Não é à toa que a banana é a fruta número um dos maiores atletas do mundo.

Mas energia não é a única forma de uma banana poder nos ajudar a manter a forma. Pode também nos ajudar a curar ou prevenir um grande número de doenças. Tornando-se uma obrigação adicionar a banana à nossa dieta diária.

Depressão: De acordo com recente pesquisa realizada pela MIND, entre pessoas que sofrem de depressão, as pessoas se sentiam melhores após ter comido uma banana. Isto porque a banana contém triptofano, um tipo de proteína que o corpo converte em seratonina, reconhecida por relaxar, melhorar o seu humor e, geralmente, fazem você se sentir mais feliz.

TPM Esqueça as pílulas - coma uma banana. A vitamina B6 regula os níveis de glicose no sangue, que podem afetar seu humor.

Anemia: contendo muito ferro, bananas estimulam a produção de hemoglobina no sangue e ajudam nos casos de anemia.

Pressão Arterial: Este fruto tropical é muito rico em potássio, mas reduzido em sódio, tornando-a perfeita para combater a pressão alta. Tanto é assim, que a Food and Drug Administration nos Estados Unidos, permitiu que a indústria da banana oficialmente informasse ao publico, que ao comer essa fruta, ela poderá reduzir o risco de pressão alta e infarto.
Cérebro: 200 estudantes da escola Twickenham na Inglaterra tiveram ajuda nos exames este ano, comendo bananas no café da manhã, lanche e almoço em uma tentativa de elevar sua capacidade mental. A pesquisa mostrou que o elevado teor de potássio na banana, pode ajudar a aprendizagem, tornando os alunos mais alertas.
Constipação: com elevado teor de fibra, incluir bananas na dieta pode ajudar a normalizar as funções intestinais, ajudando a superar o problema sem recorrer a laxantes.

Ressaca: uma das formas mais rápidas de curar uma ressaca é fazer uma vitamina de banana, adoçado com mel. A banana acalma o estômago e, com a ajuda do mel aumenta os níveis de açúcar no sangue, enquanto o leite suaviza e reidrata o sistema.

Azia: elas têm efeito antiácido natural no organismo, por isso, se você sofre de azia, experimente comer uma banana para aliviar.
Enjôo matinal: comer uma banana entre as refeições ajuda a manter os níveis de açúcar no sangue elevado e evita as náuseas.

Picadas de mosquito: antes do creme para picada de inseto, experimente esfregar a zona afetada com a parte interna da casca da banana. Muitas pessoas acham excelentes para reduzir o inchaço e a irritação.

Nervos: Bananas são ricas em vitaminas do complexo B que ajuda a acalmar o sistema nervoso.

Excesso de peso e no trabalho? Estudos do Instituto de Psicologia na Áustria mostram que a pressão no trabalho leva à excessiva ingestão de alimentos como chocolate e biscoitos. Estudando 5000 pacientes em hospitais, pesquisadores concluíram que os mais obesos eram os que mais sofriam de pressão alta e ataques de ansiedade. O relatório desse estudo, concluiu que: para evitar que comamos biscoitos e doces quando estamos ansiosos, então é necessário que se coma alimentos ricos em carboidratos a cada duas horas para manter níveis estáveis de açúcar no sangue, e é aí que entra a nossa querida banana.
Úlceras: A banana é usada na dieta diária contra desordens intestinais pela sua textura macia e suavidade. É a única fruta crua que pode ser comida sem desgaste em casos de úlcera crônica. Também neutraliza a acidez e reduz a irritação, protegendo as paredes do estômago.

Controle de temperatura: Muitas culturas vêem a banana como fruta 'refrescante', que pode reduzir tanto a temperatura física como emocional de mulheres grávidas. Na Tailândia, por exemplo, as grávidas comem bananas para os bebês nascerem com temperatura baixa.

 
Seasonal Affective Disorder (SAD): a banana auxilia os que sofrem SAD, porque contêm a vitamina B6 e Triptofano, que nos acalma e nos faz ficar bem humorados.

Fumar e Uso do Tabaco: As bananas podem ajudar as pessoas que tentam deixar de fumar. Vitaminas - A, B6 e B12, assim como o potássio e magnésio, ajudam o corpo a recuperar dos efeitos da retirada da nicotina.

Stress: O potássio é um mineral vital, que ajuda a normalizar os batimentos cardíacos, levando oxigênio ao cérebro e regula o equilíbrio de água no corpo. Quando estamos estressados, nossa taxa metabólica se eleva, reduzindo os níveis de potássio que podem ser reequilibrado com a ajuda da banana, que é rica em potássio.

Enfarto: de acordo com pesquisa publicado no New England Journal of Medicine, comer bananas como parte de uma dieta regular, pode reduzir o risco de morte por enfarto em até 40%!

Verrugas: os interessados ​​em alternativas naturais juram que se quiser eliminar verrugas, pegar um pedaço de casca de banana e colocá-lo sobre a verruga, com o lado amarelo para fora. Segure cuidadosamente a casca no local com esparadrapo!

Assim, a banana é um remédio natural para muitos males. Quando você compará-lo com uma maçã, tem quatro vezes mais proteínas, duas vezes mais carboidratos, três vezes mais fósforo, cinco vezes mais vitamina A e ferro e o dobro das outras vitaminas e minerais. Também é rica em potássio e é um dos alimentos mais valiosos para nossa saúde. Então talvez seja hora de mudar essa frase em inglês, tão conhecida: 1 apple a day, keep the doctor away, e que nós traduzindo deveríamos usar: "Uma banana por dia mantém o doutor sem freguesia!"

PASSE PARA OS AMIGOS 
PS: Bananas devem ser a razão pela qual os macacos são tão felizes o tempo todo! Vou acrescentar uma dica aqui; quer um brilho rápido nos sapatos? Pegue a parte de DENTRO da casca da banana e esfregue diretamente sobre o sapato... Passe após, um pano seco. Fica incrível!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Fio de bigode

Bueno *
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Guardo muitas coisas do meu tempo de menino que valem a pena serem lembradas, como por exemplo, o título de minha crônica de hoje: “Fio de bigode”. Houve um tempo em que não existia garantia maior do que esta, muitas vezes vi meu velho pai repetir esta pequena frase quando se referia a uma negociação, seja ela qual fosse. Em sua simplicidade, dizia ele bem assim: “Olha aqui caboclo, to dando de garantia um fio do meu bigode”. E fazia de conta que tirava um fiapo de seu cerrado bigode. E nem precisava porque preservar o nome era o que se tinha de mais sagrado naquela época, era tipo código de honra.
Hoje, eu aqui do alto dos meus 66 anos e já batendo na porta dos 67, pois dia 18 de outubro está a pouco mais de um mês, outra vez revisito o fundinho da gaveta da minha memória para assim falar de Rosemiro Bueno, o velho Roi, meu pai. Quando ele fez 50, eu o olhava sentado em sua confortável poltrona e o via pitando seu cheiroso cigarro de palha. Dizia que o fumo era goiano legítimo. Também tinha a mania de fazer três coisas ao mesmo tempo, como ouvir seu velho radinho de pilhas e ler seu jornal com a TV ligada.
Daí eu pensava: “Poxa!!! Meu pai está velho...” Ele viveu mais alguns anos e nos deixou antes de fazer 60, e eu hoje com quase 67 ainda tomo banho sozinho (rsrsrsrsr), dobro as pernas nos joelhos para lavar os pés, não dou mole pra minha pressão, sempre a controlando, tomo minha deliciosa cervejinha, canto, componho, escrevo, caminho quase que diariamente cinco quilômetros e sigo o conselho de Zeca Pagodinho... Deixo a vida me levar.
Meu velho se aposentou precocemente, a terrível doença de Chagas que inchava seu coração o levou. Dizia ele que quando menino morava na roça, na região de Altinópolis, sua casa era de pau-a-pique e o bicho barbeiro, transmissor da doença, fazia pequenos buracos na parede para se proteger. Meu pai e outros meninos colocavam seus dedinhos para que os barbeiros picassem, dizia ele que fazia cócegas, essa brincadeira de criança custou-lhe a vida.
Nós morávamos ali na rua Santo Amaro nº 332, na Vila Amélia, que chamo de “Grande Vila Tibério”. Meu pai era maquinista da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, que ocupava todo espaço desde a rua Luiz da Cunha até a Câmara Municipal. Onde hoje é o Parque Maurílio Biagi havia um enorme barracão em forma de mini Maracanã onde as máquinas entravam, além de um equipamento monstruoso que as virava em sentido oposto para que engatassem do outro lado da composição. Onde está a estação rodoviária, o Pronto Socorro Central e a Praça Schimit era toda extensão da linda da estação ferroviária.
Como filho homem mais velho, com 12 anos já tinha minhas responsabilidades. Carne em casa era só aos domingos, e era eu quem ia até o açougue comprar um quilo de paleta. Voltando pra casa, tirava uma lasquinha, passava sal e colocava na chapa do fogão a lenha e me deliciava com aquele pedacinho. Também era eu quem ia ver a escala do meu pai lá na Mogiana, a entrada de funcionários era pela rua Elpidio Gomes (rua passa atrás do Parque Maurílio Biagi), havia uma guarita bem ali onde nasce a rua Aurora, às vezes ficava naquele alto vendo as viradas das máquinas.
Meu pai tinha outras tiradas que levo comigo, como quando via uma criança fazendo alguma arte logo dizia, sacrificando a língua portuguesa: “É de pequeno que se troce (torce) o pepino”. Do meu velho pai levo muitos ensinamentos e os passei para meus filhos e netos, tomara que sigam esses exemplos. Honrar seus pais e amar seus irmãos é obrigação, mas que continuem dando como garantia o fio do bigode.

* Cantor e compositor

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Nossos músicos

Bueno *
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Aos domingos, tipo ás oito da manhã, ligo meu velho rádio para ouvir meu querido amigo Abel Santos na rádio Clube AM. Ali a hora passa e eu nem me dou conta, pois sei que estou em companhia de boa música e música alimenta a alma. Enquanto isso cuido dos meus e-mails e também dou meu passeio pelo Faceboock.
Abel, com sua bonita voz e aquele bom humor cativante, vai alegrando o meu dia. Ele fala do nosso Corinthians, canta, declama, nos conforta com mensagens de otimismo, manda abraços para uma legião de amigos que só um ser humano de um coração tão puro como o dele consegue agregar.
Alguns domingos atrás ele tocou um bolero cantado por Anísio Silva, também de belíssima voz. Fiquei em silêncio ouvindo a música e transportei-me ao meu tempo de garoto, quando o que mais se ouvia no rádio era ele, além de Francisco Petrônio, Angela Maria, Caubi Peixoto, Roberto Carlos e outros grandes nomes.
Nesse passeio pelo meu passado, lembrei-me de alguns músicos aqui de Ribeirão Preto que muito lutaram e continuam lutando pra conseguir um lugar no cenário musical brasileiro, e de como certos cantores são descobertos até que meio que por acaso, como é o caso do Anísio Silva. Era balconista em uma farmácia em São Paulo e trabalhava o dia todo cantando. Um belo dia, um cliente que sempre o ouvia soltar a voz o orientou a mudar-se para o Rio de Janeiro, onde o point dos artistas era o famoso Café Nice, bem ali na zona boemia.
Seu estilo cairia como uma luva e não deu outra, Anisio Silva foi para o Rio e arrasou, tudo que ele gravou fez sucesso, como, por exemplo, “Alguém me disse”, “Quero beijar-te as mãos” e outras mais. Francisco Petrônio é outro cantor que foi descoberto assim meio sem querer. Eu costumo usar um velho ditado de que nada acontece por acaso.
Ele era taxista e também vivia cantando para seus passageiros, sua voz linda e aveludada só fazia bem aos ouvidos de quem tinha a sorte de entrar em seu táxi. Certa noite, um “anjo” lhe solicitou uma corrida. Era o cantor Nerino Silva, que se encantou com a voz dele, levou-o para um teste na extinta TV Tupi com Cassiano Gabus Mendes, que o contratou na hora. Seu maior sucesso foi “Baile da saudade”. Petrônio nos deixou em 2007, aos 83 anos.
Voltando aos cantores de Ribeirão Preto que batalham, digo que meu querido amigo Celso Miguel, dono de uma das vozes mais lindas que já ouvi, está em Sampa faz muitos anos, mas infelizmente não teve aquela mão no ombro de que tanto falo, tipo “agora é a sua vez”. Ele é queridíssimo na capital, Celso continua por lá fazendo aquilo que Deus lhe deu o privilégio de fazer, “cantar”.
O nosso Kiko Zambianki continua por lá, depois de grande sucesso com sua genial composição “Rolam as pedras” e a versão de “Hey Jude”, dos Beatles. Hoje ele faz shows e se dedica a trilhas de filmes. Recentemente, uma safra de artistas aqui da terrinha começaram a arrasar pelo nosso Brasil, começando pelo Sambô, que organizava por aqui uma linda roda de samba.
Os caras do Sambô foram a Sampa cantar na festa de um jogador de futebol e agradaram tanto que a coisa acabou virando um rolo compressor. Num desses eventos, um esperto empresário entrou na área, emplacou uma música do grupo em novela e daí em diante começaram a colher os frutos.
A banda Oba Oba Samba House, com Luciano Tiso no comando, foi chamada pra cantar no navio do Roberto Carlos, o empresário do rei gostou e o grupo virou sucesso, também com direito a música em novela. Parece que depois de muita luta chegou a vez da banda Rod Hanna. Estão na abertura da novela “Boogie Oogie” e tenho certeza de que vai estourar, pois são os melhores neste seguimento. São nossos artistas de Ribeirão Preto para o mundo.


* Cantor e compositor

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Dr. Siqueira, o delegado corintiano

Bueno *
Se tem um delegado de Polícia Civil pra quem eu tiro meu chapéu, este é o doutor Sérgio Siqueira. Com ele bandido não tinha moleza, não, amigo, era tratado como bandido mesmo. Dr. Siqueira é meu querido amigo de longa data, época em que ainda era subtenente da Polícia Militar e eu policial rodoviário. Ele estava prestando concurso para delegado e quando passou, falei para meus companheiros: “Perdemos um senhor policial e a Polícia Civil saí ganhando de goleada, pois terá em suas fileiras um delegado com uma bagagem que poucos têm”.
Naquele tempo, Siqueira já era temido pelos bandidos da cidade e pelos motoqueiros que arriscavam a vida `nas tardes dos domingos em “rachas” na avenida Presidente Castelo Branco. Quando ele chegava no pedaço com sua equipe era uma esparramada geral, uma correria até bonita de se ver, mas alguns “manés” sempre caíam na rede e pagavam pelos outros que fugiam.
Eu adoro usar chapéu e o responsável por incorporá-lo na minha indumentária é justamente o Dr. Siqueira, isso porque, certo dia, apresentei meu programa de TV “Canta Ribeirão” com um chapéu “panamá”, era uma homenagem ao sambista carioca João Nogueira. Ele assistiu e quando a gente se cruzou num domingo, no Clube de Regatas, ele me disse: “Buenão, você ficou muito bem de chapéu na TV, use sempre e assim você vai consolidar uma marca toda sua”. Ele tinha razão, hoje tenho muitos chapéus e até agradeço ao querido amigo.
Nos campeonatos de futebol lá no Regatas, Dr. Siqueira é um zagueiro de respeito, daqueles que chegam junto e não dão mole pra atacante nenhum. Mas bamba mesmo ele é numa mesa de bilhar, é sempre campeão, quando há torneio é comum vê-lo caminhando pelo clube com um estojo em que guarda a sete chaves seu taco mágico.
Cantei por 16 anos no restaurante Ponto Chic e Dr. Siqueira e esposa sempre me prestigiavam, eu até sabia de suas preferências musicais e as cantava com prazer. É grande fã de Benito di Paula e, empolgado, às vezes até subia no palco, passava a mão num tamborim e não deixava a peteca cair, o samba de seu ídolo ficava redondinho.
Ali, numa noite batendo papo em sua mesa, ele revelou me ser corintiano. Só dava entrevista para uma emissoras de TV se o distintivo do Corinthians aparecesse ao fundo, mas por um descuido seu, um de seus filhos bateu asas para os lados do Mo­rumbi.
Meu irmão Rubão e seus filhos Daniel e Vitor são são-pau­linos de carteirinha, e quis o destino que sua filha Camila e Francelso, filho do Dr. Siqueira, juntassem as alianças. Foram morar pertinho de meu mano. Quando ela engravidou e descobriram que seria menino, Rubão recebeu a visita de Siqueira, que feliz da vida fora lhe propor um acordo. Disse ele: “Rubão, vamos fazer o seguinte, vocês escolhem o nome, façam o que quiser, mas o time eu e Francelso escolhemos, fechado????” Rubão topou e também muito feliz bateu o martelo.
O garoto nasceu e no quarto dele havia tudo que lembrava o Corinthians: berço, cuequinha, blusinha, bandeira na parede... Na porta estava escrito: “Aqui mora um corintiano”. O menino foi crescendo, convivia nas duas casas, duas torcidas inimigas, meus sobrinhos tentando fazer a cabecinha do garoto para ele virar casaca... Por azar, o São Paulo entrou naquela fase de ganhar tudo, alguns coleguinhas de classe mudando de time e o pequeno falou para seu pai que viraria são-paulino. Francelso, muito nervoso, foi até a casa de meu irmão Rubão e sobrinhos lembrá-los do acordo.
Tudo acertado, o garoto hoje está com a cabeça feita e a nação corintiana pode contar pra sempre com mais um no seu bando de loucos. Dr Siqueira, um baita abraço, sinto orgulho de ser seu amigo.
* Cantor e compositor

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Faz nove anos

Bueno *
O tempo, tempo que, às vezes, parece uma eternidade e, em outras, apenas alguns minutos, parece que voa aqui na terra, tanto que no dia 17 de agosto de 2014, domingo próximo, este tempo será de nove anos sem meu amado filho Lucas Bueno.
Já escrevi crônicas aqui e, ao botar no papel, emocionei-me. Desta vez vou tentar não chegar a tanto, até porque, notícias que recebo e que vêm do outro lado da vida, dão conta de que Lucas está superbem, ele faz parte da equipe de jovens que o socorreram no acidente daquela manhã, na estrada que liga Ribeirão Preto a São Carlos, meu filho foi o último a integrar a equipe.
Hoje, onde acontece acidentes em que jovens vêm a falecer, lá está ele com seus amigos levando esclarecimento para suas chegadas em outro plano. Muita gente não acredita, mas eu não tenho nenhuma dúvida.
Muitas vezes me peguei analisando atitudes dele antes de sua partida e hoje até acho graça, como o dia em que parou em frente à nossa casa e, quando abriu a porta, vi a chave de roda do lado do seu banco. Perguntei: “Lucas, o que esta chave está fazendo aí, meu filho? O lugar dela é junto ao estepe.” E ele, mudando seu humor, disse: “Ô, pai, deixa pra lá”.
Quando ele saiu de perto, sua namorada me falou, quase em murmúrio, que ele tinha a mania de parar o carro de repente e reapertar as rodas. Isto me deixava encucado e hoje até acho graça. Divirto-me muito ao lembrar de nossas brigas musicais, que me deixavam com a cuca fervendo às vésperas de algum show, em que sempre cantava um grande nome da nossa MPB.
Agendava as apresentações com três meses de antecedência, Lucas me auxiliava a escolher o repertório, depois num CD gravava música por música seguindo a sequência do show e entregava uma cópia para cada músico, junto com o a relação que ele batia e xerocava.
Marcamos um show para o Bar do Val, “Bueno canta Chico Buarque”. Os dias passavam, em casa eu observava Lucas que parecia não se preocupar em “tirar” as músicas, e como sei que as harmonias das músicas do Chico são supercom­plicadas, fui falar com ele, que não aceitou minha cobrança.
Armamos um barraco daqueles de pai e filho, e no auge do bate-boca ele disse: “Arranje outro pianista, eu não vou tocar com você.” Na hora da raiva, emendei que também não o queria mais no palco. Quando a poeira baixou cai na real de que não teria tempo hábil para outro nomear um substituto. Minha primeira-dama tentava convencê-lo a recuar, e nada.
No dia seguinte, já bem humorado, ele perguntou se eu já tinha encontrado um novo pianista, pois ele tinha que passar-lhe as músicas. Daí joguei pra cima dele uma conversa cheia de “rasgação de seda”, tipo: “Olha, Lucas, até que encontrei, mas um pianista como você não existe, meu filho, o músico do show tem que ser você.”
Percebi que meu argumento mexeu com seu ego, daí ao xeque-mate foi um segundo, ele riu cheio de orgulho, pois também não queria ficar fora e na hora me disse: “Pai, vamos marcar o estúdio para os ensaios.” Só sei que este show foi um dos últimos na companhia dele, parece que alguém lá de cima me dizia: “Buenão, grave este show”. Foi o que fiz, não tenho dúvidas de que foi nosso melhor show, até Sócrates ficou empolgado, subiu no palco e cantou “A Rita”, de Chico Buarque.
Por estas e outras histórias contadas aqui, a vida segue e saudades surgem do nada apertando meu peito, porém, sei que tem que ser assim, também sei que ele está sempre por perto, olhando por mim.
Na semana passada, quase nove anos depois, me chega a notícia de que a rua dois do “Condomínio Colina do Golf” irá se chamar Rua Lucas Eduardo de Melo Bueno... Meu filho terá seu nome eternizado.

* Cantor e compositor